sábado, 26 de junho de 2010

nove graus


à meia noite, sob nove graus
em hora que nos sentimos vivos
qualquer grito seria um falso desatino
saindo de nossas bocas em lençóis de vapor
um sangue rebelde e quente
rebatendo o gelo solene ao redor

como um desespero que não se engana de ser atropelo

à força de nossos olhos abertos
o vento declina em gota
e repentinamente, um sonho se nos atravessa discreto
qual dos goles fez-me escravo de ti inteiro
quem das perdas aprendera a deixar-se rir

há nas horas de amor um ar nem triste nem feliz
porque o tempo se atem sobre si
de tal maneira que sente apenas a fome
de agora, não ter mais de si a perder

nossos olhos poderiam mentir: se quisessem
como arrepios, poderíamos ser breves
depois de eu beijar tuas têmporas com tanta pólvora
poderíamos ter a calma de explodir
e seríamos leves, então, se não fôssemos corpos
se fôssemos âncora contra a corrente das nossas mãos

e se o frio nos corta à meia noite,
em hora que nos sentimos vivos
talvez sejamos inevitáveis avisos
de que o inverno afia a lâmina de nosso próximo verão