segunda-feira, 30 de julho de 2012

Sem nome





















teu túmulo não está em paz, rapaz
teu túmulo está vivo, a terra não é teu lugar
o tumulto é teu cansaço
tua morte está viva,
tua paz é ausente, teu infortúnio
teu incorpo, teu inchaço
o desagravo é teu consolo,
e não te consolas de nada
tua gravidade a cada inverno infarta,
ar que falta aos bufões de teu coração,
oração que soa à toa em teus cordões

tua luz é fraca e atravessa uma poeira clemente,
tua vontade está doente
e de fria insistência insiste em não raiar
lá fora te alugas por pouco, não te vendes a ninguém
mas teu também não és

vês espectros de saudade atravessando as portas,
teus olhos, estas pedras indulgentes, 
satisfazem-se nessa besteira,
mas tua alma, descortinando o úmido catre,
revolta-se contra estes sábios imbecis

tens dons de sabedor, ruidoso aprendiz
tua capa é rude e dura, mas tuas páginas
têm fina brochura, só não vês se não quiseres
abra teu livro, reinventa o crivo de tuas tintas
sobre a pele roída de tua memória

esta nostalgia do mar que te açoita,
resgata dela o ouro que te falta,
ponha tuas botas de novo sobre o chão,
volta para terra e não finjas que estás morto,
nem cuspa nos outros só porque te fazem solidão

abra tuas velas e desvele teu outro mar,
ignoto andar que leva a ti,
transeunte lunar, ferreiro das dores,
estratosférico olhar

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Pacas


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Trinta anos não curam a ferida de ter nascido,
Nem o passo sequer acerta o chão com mais afinco.
Por sinal, o acerta com menos.
O que se faz com um sonhador que não dorme?
E os anos de relva, de latitudes rasgadas de puro ímpeto,
De alturas sugadas pelo gozador da juventude; esse tempo passou?
Tempo em que os goles de água salgada tombadas pelo mar eram
Incomensuráveis aos... aos... aos... cafezinhos de esquina!
Saudade? Não. Este é um embrião morto no meu ventre.
E meu ventre, um verme acelerando a decomposição do verme mais velho.
E os anos de sabedoria, não vêm? Aquelas tardes de estar na cadeira-de-balanço, cozendo lenta e agradavelmente sob o sol das constantes, das afinidades consolidadas, das juntas e nervos rangendo contra a lucidez tenebrosa dos anos de aprendizado, do luminoso amor fati.
Grande merda amá-lo, enfadonho enrugar do tempo.
Ah, que falta faz meu corpo de cágado, era tão mais avesso às possibilidades...
E debaixo desse logro escuro, desse pasmo e cínico acolhimento, não deixei de amar, nem de cuidar, nem de valer mais que o meio milhão de imbecis que brotam por aí, abaixo, acima, aos montes e prenhes de outros ainda.
Nem de me enganar.
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