Eu vivo o
rio onde morrerei a nado
eu vivo em minha nave imprópria, decadente e sóbria
a nave mãe da triste ossada
a nave pesada das eternas águas
eu vivo em minha nave imprópria, decadente e sóbria
a nave mãe da triste ossada
a nave pesada das eternas águas
Eu vivo
poente em janela de ideia extensa
novelo de minha jangada densa
Eu vivo a câmera lenta das mágoas
novelo de minha jangada densa
Eu vivo a câmera lenta das mágoas
Eu desço
o lago do tédio, úmida morada
regaço de minha armada e pólvora do desassossego
regaço de minha armada e pólvora do desassossego
Eu
naufrago no mar dos trôpegos,
esquinas e sinais vermelhos
O puído dos olhos velhos em meu lânguido reflexo
esquinas e sinais vermelhos
O puído dos olhos velhos em meu lânguido reflexo
Eu vivo a
nave a recobrar o tato
vez perdido no enfado,
Vivo a reaver o nado neste modesto retalho,
o mundo, em recíproco escárnio
vez perdido no enfado,
Vivo a reaver o nado neste modesto retalho,
o mundo, em recíproco escárnio
Eu vibro
em ondas das quais destoo
rios que me foram expulsos
bombas que me foram postas
versos que voltam como recuos
rios que me foram expulsos
bombas que me foram postas
versos que voltam como recuos
Eu venho
varrer a nuvem espessa
atravessar-me o oceano com a nave imprópria
Eu vivo a nave inglória das promessas
atravessar-me o oceano com a nave imprópria
Eu vivo a nave inglória das promessas
onde a nave decanta seus gritos
e onde o mito reencanta a estranha pousada