terça-feira, 27 de novembro de 2012

O que não



Sem esperança e sem desespero.
Falta-me a calma e na
alma contradigo-me com espinhos de aço.
Os anos trazem algo estranho e
a praga cartesiana assola cirurgicamente,
assassinando a primavera do Tempo.
O corpo sobrevive e a mente se exaure
na velha cadeira de balanço da apatia.

Tratei esse vício com doses potentes de paixão.
Atirei-me no fundo desse liquidificador.
O corpo estonteado alcançava as idéias de um lado,
e do outro, a mente turbilhonava braços e estômago.
Éramos um Coração! Mas tudo falhou.

Agora restam lapsos desconjuntados onde
antes houvera grandes temporadas.
Segunda-feira, o trabalho;
Domingo, o tapete amarelo de flores
 e as luzes de mercúrio ao fim da tarde;
Sexta, a alegre folia, plagiando deuses antigos,
relembrando os entusiasmos da vida,
considerando com enorme coragem
o que hoje é a mais triste bagagem, o futuro.
Hoje, de verdade, bastam as horas aflitas.
A nostalgia, a consciência e as doses amargas do Destino.

Contra todos eles a Força e o seu claro-escuro da vitória.
Se houver Força.

Eu me pergunto que fundo é este,
o sentido de tudo, a seta dos deuses.
Não me pergunto mais.
O Deus, o éter, o ver de cima e comparado
e o tamanho relativo de cada coisa,
o ar puro dos cimos, a saga de alcançá-lo,
a mais esbelta das aves e o mais desconcertante dos vôos,
os cavalos alados, os dragões de guerra, a brilhante queda. 
Tudo está no alto.

E agora se perguntam onde está o problema.
Eu vos digo, é o hiato da existência, a Tragédia.
A realidade das pedras, o ato-falho dos átomos,
o estrondo das ondas, e tudo que se lhe assemelha e
irrompe como um imenso nó na garganta –
O esplêndido dinossauro terrestre.
Que não dorme, não come. O Diabo existe. Porque sonha.