terça-feira, 26 de abril de 2011

não contam as causas daninhas

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têm olhos que disseram: cuide-se
outros que haviam cuidado demais

aqueles que disseram: calma
e não voltaram... aqueles que não houveram

bastassem as solidões pesadas,
e os negros andrajos do inimigo
e os rasgos amargos
e as selvagens porções negadas

a fome

o revés

se olvidassem as pás-de-corte do passado,
e gotejassem um beija-flor sobre o nome da morte
aqueles olhos fossem menos sangue,
menos desastre, mais conforme... o vento, talvez

juntara-se nada perto de quase nada,
e o ciclo permaneceria aberto,
com os giros cada vez mais apertados,
levando com moléstia a falsa carcaça

sim... do amor
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terça-feira, 12 de abril de 2011

a cada dia mais difícil

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escondi-me noutras vilanias...
rabiscos, arabescos, discos
nas seringas e mesquinharias de prata

na indecisão promíscua,
a lívida confusão da essência-cor
na pele de um dálmata

não regressei à Auschwitz
mal saí de lá, sei... mal saí
mesmo vivendo de frestas
me dói no inverno a dor mais fria:
cerrar as janelas e não vê-lo voltar

assim depositei num gesto sonífero
a alma acolhida num veio d'água

e na zona ambígua do meu átrio
legislei o mais tirano dos pornocratas
benfazi as deusas mais suculentas,
as que evitavam mágoas

contei as vezes estrangulado,
e não aprendi os traços da amenidade,
nem orgulho

da hora de afrouxar as rédeas:
o árduo forcado de restos
que tua corrida inspirava

(mais vida, mais risco, mais riso)

derrubei grades e retorci ferros,
a que tua liberdade
respondeu em agulhas apuradas:
estradas, céus

quando desdisse de mim o crédulo, vi o cego
insultei até o surdo de mim, o burro
e de mim desconheci os pregos,
destes, onde não advinhei os lados,
sabendo a lição:


sangrar, posso sangrar, e sangrei até
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