domingo, 21 de agosto de 2016

Dia 21




hoje quando olhei-me no espelho
eu vi a pluma da saudade.
o ar limpo da manhã, a luz lilás e clara, o vigor das mãos,
não bastavam.
senti que a ilharga da mesa e o caibro da sala tinham também a mesma voz
do rangido
antes de estalar, rompiam-se na infinitude
da pequenez
e as fibras minúsculas
da presença grunhiam.

hoje, estar de pé não bastava
senti o poente ter mais cedo comigo
e tive medo de não estar
fez-se um mapa de ruas vermelhas
na pequena vila dos meus olhos,
mas haviam postes de luz dourada

eu vi teus olhos de tungstênio
eu vi nascer a noite como se a noite
houvesse implorado a nascer
teus passos eram uma meninice do mundo
e deixavam sobre as ruas o brinquedo
do teu rastro

tanta doçura entrepôs-se ao espelho,
estava longe a hora do sossego
e perto demais teu olhar.

sopesei a pluma da saudade,
era de suportar, afinal
já estou velho demais para não saber a hora certa de ruir