sexta-feira, 16 de maio de 2008

Infortúnio

À tarde, fitava a praça e a multidão admirado com tamanho desperdício daquelas vidas. Dei-lhes de presente um promissor "em nome de quê?". Logo, de volta pra casa, apreciava as colunas e construções dos homens quando quase tropecei numa daquelas formiguinhas, ao que ela reagiu com uma ofensa gratuita. Ignorava a criaturinha estúpida que há pouco eu os havia elogiado com tamanho desperdício.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Anda pelos entremeios e diverte-se nas reviravoltas. Esgarça suas dobras já profundas e enferrujadas. Vai livre e deita sobre as coisas, não sofre de ausências porque implodiu seus continentes, é talvez um povo selvagem agora em festa, um tributo qualquer ao desprendimento egocida. Voa incauta, lisa e luminosa, ave liberta; impressiona a quem te enxerga e incendeia tuas cinzas. Queira, inveterada vertente, tua foz bendita e tuas cancelas desalmadas, eternamente. Mente a ti mesma, fremente alegria. Pureza, ria!

sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Sopro

Cansado. Por onde anda o contentamento deste homem? A âncora que lhe prega no fundo do poço é ambiciosa demais. Tem um brilho vadio nos olhos e um sorriso encabulado e triste no rosto. O coração lavrado de lembranças fabulosas, e uma consciência maliciosa e atenta. Sofre de devaneios e esquece de rir. Tantas vezes trocou os pés pelas mãos, e como cultiva a tristeza e o martírio, e o que há de querer com isso? Sabe dos prêmios da leveza, mas padece de seus desencontros. O que há de querer com leveza? O que lhe importa é a persistência, os pés firmes no chão e uma ironia fina. A mesma ironia que sua espera reserva, a espera de que os labirintos que o tomam se resolvam, se engana de poder viver às claras consigo. E cansa de si mesmo, se afasta, se cala e se mata mil vezes. Torna a abrir os olhos e volta e meia se apraz com seus pulmões inflados, preza pela graça dos dias e o frescor das noites. Disfarça o sorriso diante dos pequenos tropeços alheios, não é um deboche, apenas uma forma de simpatia velada pelos pequenos desvios. Cansado. Quer fechar os olhos e esquecer de si. Sonhar... morrer.