sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Sopro

Cansado. Por onde anda o contentamento deste homem? A âncora que lhe prega no fundo do poço é ambiciosa demais. Tem um brilho vadio nos olhos e um sorriso encabulado e triste no rosto. O coração lavrado de lembranças fabulosas, e uma consciência maliciosa e atenta. Sofre de devaneios e esquece de rir. Tantas vezes trocou os pés pelas mãos, e como cultiva a tristeza e o martírio, e o que há de querer com isso? Sabe dos prêmios da leveza, mas padece de seus desencontros. O que há de querer com leveza? O que lhe importa é a persistência, os pés firmes no chão e uma ironia fina. A mesma ironia que sua espera reserva, a espera de que os labirintos que o tomam se resolvam, se engana de poder viver às claras consigo. E cansa de si mesmo, se afasta, se cala e se mata mil vezes. Torna a abrir os olhos e volta e meia se apraz com seus pulmões inflados, preza pela graça dos dias e o frescor das noites. Disfarça o sorriso diante dos pequenos tropeços alheios, não é um deboche, apenas uma forma de simpatia velada pelos pequenos desvios. Cansado. Quer fechar os olhos e esquecer de si. Sonhar... morrer.

Nenhum comentário: