domingo, 19 de julho de 2009

hábito cristalino

pequena musa (adormecida)
teus olhos de Lispector não mentem
uma cifra anti-platônica da paixão,
[difusa, bela e futil e omissa]
desenhando a sombra de uma gata suicida

não tens mistério, diz tua fúria pálida.-
amolação lenta da tua foice (morta?)
recortando a forca do tédio dos teus pesadelos,
ao pé de uma dor tranquila...

rasga com tuas unhas vermelhas meus novelos de seda
e me dá a gosto um corte farto de sangue
ou deixa inocular minha dose de afeto
na tua pele - tua neve de outono - ofegante

e já recobrado do golpe, do gozo festejo
o Édipo torpe que burlou grades
[e arredou mãos cheias de dedos]
pra que o cerne desalmado dos teus medos
fizesse cor e lis dos teus alvéolos mortos, e beija-flores.