terça-feira, 29 de setembro de 2009

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Nos acostumamos a ver as coisas como apocalipses brilhantes. Um saudoso amanhecer de inverno, árido, e eternamente coberto de sonhos, que sobra em si e deita... adormecido na primavera, quente e colorida, infinita, talvez, ele deixa de ser... Damos nossos restos de ontem como minúsculos banhos de amor, sábios desfazedores de si, somos ofegantes malabaristas cujo último respiro é de contentamento e graça. Embebedados pelo mundo, uma sôfrega terra radiante, voz solene que cobre e cura nossa afável carcaça... retorna revoltosa sobre nós com sua calma, com a sua alma e canto. Com a pele que guarda a imperfeição da memória em cada dedo, em cada tato, tocamos a mesma pele no exato momento em que ela envelhece, marejada, gravura de uma centena de gozos e danos, todos eles calados agora, agora, agora...


* Arthur Rubinstein plays Liszt, "Liebestraum n°3"

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