terça-feira, 3 de novembro de 2009

dança

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há dias eu corria sobre uma estrada negra, corredor do inferno. ao largo e longe uma pequena árvore enchia meus olhos d'água, ela dizia em eco que eu era parte de tudo: do verde, do caule, do monte, da distância, do fogo. naquele inferno, senti que a gota que brotava dizia alguma coisa sobre todas as outras, coisa que dá sentido a tudo que cala e só diz em solidão. minha fraqueza tem um tônus que desconcerta, meu estômago é esfinge, repetindo o mesmo frio no medo e no amor, sou refém. com o tempo, a caminho do cimo, aprendo a ser honesto comigo, cada vez mais, assim como minto cada vez com mais exatidão, meus fantasmas mesquinhos já não enganam como outrora, o medo de não poder voltar já não mais convence, meu pequeno eu é uma ferida seca, vocês entendem isso? deito pra dormir acordado por uma miríade esquizofrênica, que surta meu descanso até o paroxismo da imperfeição, e quando a saga delirante finda, eu sonho com o impossível, ainda refém. beiro o gozo com um único beijo, toda realidade condensada nos lábios, parte renegada (a culpa alheia), parte concedida (a sabedoria da sorte), parte consagrada (a verdade ri detrás do véu de todas as nossas mentiras), vocês entendem isso? o sonho, quisera a razão não fosse assim, não é infração, o sonho não é moral; não é necessidade, o sonho não é corpóreo; o sonho é a própria liberdade do mundo, um dândismo que perfuma a terra, que enxota com o sopro da coragem a pequena mosca da nossa hipocrisia, sou ninguém: a culpa que visita a alma é um hóspede num quarto de assassinos, por quê tanta insônia nessa noite de séculos? eu sei, o sono é uma arte do corpo, mas o corpo hoje é apenas um balcão de negócios. sou réquiem...

Um comentário:

de mau humor disse...

muito interessante! viajei contigo nessa loucura!
somos reféns de nossas fraquezas, medos, culpas, tormentos? talvez sim...o sonho pode libertar?. não sei...
tb tenho medo de não poder voltar. é estranho...