segunda-feira, 5 de julho de 2010

sobre grifos e agulhas

deveria o amor se distrair, assim, recente?
e se na noite, dos dentes, saísse-se-me pequenos carinhos,
porque não posso arrancar-te de ti inteiramente?
e pensar que é besteira querer-te ainda tão jovem de mim,
tragado pelo descompasso de quem mais pode ensinar-nos -
o tempo

vejamos a lógica dos soluços entre dois de nossos silêncios:
enquanto me embaraço no gesto de sonhar ao teu lado,
tu sossegas no perfil de tuas cicatrizes
dois futuros em mim sedentos
pelo titubear de dois passados em ti suspensos

não tenho jeito para endereçar os gozos em mim:
de repente vejo-me pedra em pleno ar... queda
tão logo vejo-te ventar nas minhas dunas,
e mesmo com pudor, arrepia-me te ver arrastar meus horizontes
e a sorte nem sempre segue teu encalço,
tendo vezes em que adentro teu mar inteiro,
tuas ondas e tuas ressacas
e sigo plataforma e aço!

mentira seja dita: a verdade é a mais tacanha desesperança
e se eu costuro algum fim às avessas com fina fazenda
é para adormecer teus ouvidos com um suspiro de espera
e cegar teus olhos com um pequeno beijo de seda

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