quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Das histórias inúteis

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Já não havia manchas de sangue: mais
só resquício, memória pálida,
alguma guerra outrora marcada e viva
de onde sobrevim exausto, definhado

As folhas secas do chão qual espinhos
cochilavam as feridas da queda
E as feras espreitantes desdenhavam
a morte desvalida de um animal daninho

Fraco, nem de alimento servia aquele fim
Se comido, viria à tona vomitado
Se deixado, viria impregnar com podridão
A epiderme úmida daquela selva nutriz

Nem de morte, nem de cólera...
Apodreci num sonho, num encanto semi-heroico
Retorcido até o limite dos ossos,
Acordei sob luz de fada e pérola

Era feto, emudecido, de carne desnuda
Suja. Coberta já de um leite iluminado
Adivinhando a água pura, prenunciada
No barro macio que meu corpo retornava

Tal vigor ressurgiu naquela outra vida,
que um despudor viril subjugava a mácula
das lutas, o rastejar da sorte, o ínfimo da dor
Apunhalava em si qualquer ingratidão

Serviu-se de mim banquetes a todos os fins,
dos começos beberam-me uma esperança nervosa
Daquele mito invadi o rosto dos dias,
rasgando o canto dos lábios até doer o riso

Não rendi, não fora rendido.
De um homem que contava histórias:
liquidadas de luz
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