Veleja por essas águas calmas e silenciosas,
Por essas cortinas escuras, por esse
Espelho sombrio da lua, teu olho é o teu momento
sobre esse fundo difuso.
Vê, esse é o teu quarto,
Teu barco, tua alma, teu claustro.
A deriva, teu bote sinistro
Caminha sem rumo. Vai de um canto
A outro do quarto, animado por não sei
Qual correnteza desse claustro,
Que são os percalços do teu pensamento.
Bate num canto, no outro, volta ao centro
Desse nefasto redemoinho.
Vê agora teu coração, é o corredor
De um imenso orfanato. As lajes frias
Dessas encostas são tuas. A esperança
Confusa que ali ecoa é tua. Os gritos
Dos infantes são os teus. O medo
Agravado da noite é teu:
Companheiro de travessia, tua ilha
E teu travesseiro.
(Olhos abertos e a boca seca...
Costelas a mostra, os pés descalços,
os anjos e as bestas, eis teu núcleo elétrico,
o som das vespas, tua única chance)
Maldito, vejo que não apela ao naufrágio.
Não sucumbe a matéria bruta, por que insiste?
Fecha os olhos para nutrir ainda mais
fundo o teu precipício, vamos, desespere!
Diabo! Não tem limite? Por que não chora?
Que traz debaixo dessa veste escura?
Ah, deixa-me ver. Credo! Algo de infinito.
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