segunda-feira, 4 de abril de 2022

Mais do mesmo

Quando acordei já senti
um coração em falso
não te achei aqui, nem ali, nem lá
não era metade, nem lamento
era só o presente passando ao largo do largo da saudade

termina assim, sempre antes de sabermos
quando pareceu mais grave fez-se gasto
quando pareceu intenso fez-se fraco
terminou sóbrio quando urgia embriagado

não apelei ao melhor amigo, nem houve uma tarde amarga
foi de graça, entendi assim
o amarelo desamarelou na manhã de domingo

encontrei no passo da segunda-feira
o sentido da caminhada, era deixar passar:
chuva que não molha, deixe-a

termina assim, o nó na barriga não amanhece, 
o sol desce
e tanto faz qual dia será

não, não há nada em troca
quem sabe alívio, eu saí à rua
e a civilização desaparecia, 
não desesperei catástrofe, havia talvez uma hipótese

o tambor da nossa terra parou de bater,
o poema era o último repique
numa via mal remendada

notei que a vida exigia ainda mais,
era março eu tinha de sorrir:
o perfume do outono trouxe
o assovio do meu avô e um vagalume acendeu

entendi o amor na solidão.

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