sexta-feira, 17 de julho de 2009

Canção das pedras

Destino, advinha tua fábula, tua cabal realidade. És minha tartaruga-marinha. Majestoso silêncio que arrasta um oceano consigo. Vencedor que levita sobre o solo mais rarefeito, a paciência inconteste de todo o teu peso... Tens graça. Não te tornas um pesadelo por pouco; obstina tua destemida leveza, contra tua metade petrificada, em milhões de rotações terrestres, como se fora um príncipe dos tempos. Tuas crias nascem do risco, um balé de centígrados jogam suas vidas ao calor da fortuna; teus olhos imensos, marejados por natureza, contemplam o lento vagar da vida, e se dispersam, espelhos do mar, em nostalgia descabida. Tua força, mistério, teus braços, império, teus traços, corredeiras do Eterno, tuas vestes, abóbada rochosa que zela os ecos do instinto e do amor. És perfeito na tua dureza, teus temores tem viço, tuas certezas, alegrias. Gigante materno, não és meu Tártaro, contudo, ainda és minha, e até a Morte há de ser.

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