terça-feira, 11 de agosto de 2009

Partícula V: o passeio

Natalie ainda estava um pouco contagiada dos rumores da rua, mas sabia que os próximos passos a traziam para um ser bastante silente. Entrou, e logo deixou escapar uma daquelas interrogações triviais, que correspondia ao lugar comum de onde chegara:
- Roman, como vai? - disse a moça, com seus olhos felinos e distraídos.
Depois de alguns segundos demorados de observação calada, a quietude de Roman se pronunciava com o pesadume costumeiro:
- Minha cara, você sabe, sou daqueles que deixaram a si mesmo para trás, como o inverso da metáfora das víboras, a carne viva cristalizou algures, enquanto a carcaça seca continua móvel!
Natalie respondeu imediatamente:
- Oh, Roman Woolgar, você está a cada dia melhor, se continuar assim logo terá uma estátua em frente a pousada: aqui jaz mais um homem absoluto! Que tal um passeio? O dia está agradabilíssimo, seco e ligeiramente frio, desafie a secura do dia com a sua e veremos quem sairá melhor, hein.
Roman aceitou o próprio sorriso sem jeito a desreipeitar sua sisudez, e cedeu:
- Está bem. Saiba que esse convite não é um grande desafio, minha escuridão não teme a luz, você sabe, e todo a minha sábia melancolia não resiste a sua inescrupulosa criancice!
Roman deixou a xícara sobre o mármore encardido da pia, procurou rapidamente algum dinheiro na gaveta da escrivaninha, pegou um casaco de veludo no armário, e estava pronto. A distância entre esses pontos naquele cômodo confortavelmente incômodo permitia a rapidez, era mínima, como a constância de Roman. Saíram os dois, felizes daquele ar limpo, também contentes da companhia verdadeiramente recíproca, Natalie era implacável em seu tato com Roman, extraia sorrisos daquele rosto amarrado como se fossem pérolas, Roman devolvia quietude e charme - elogios indiretos a presença daquela mulher. Assim, seguiram até os arredores do cais, queriam a luz do sol mais plena, sem os desvios de concreto do centro da cidade; nada como um passeio vulgar, a cabeça saturada de leveza, e um horizonte largo à espera.

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