terça-feira, 5 de outubro de 2010

Sobre a maior ilusão do homem, um homem

Dedicado à Vida: o texto e a música de Glen Hansard


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A incomensurabilidade do Tempo.

O deleite Feminino.

A perfeição entre o Demoníaco e a Serenidade.


Diria destas três fórmulas que são os axiomas que me obcecam, inteiramente. Dos quais me nutro, dos quais renasço, nos quais anoiteço. Eu os persigo, dolorosa e impunemente, como a mais alegre das escravidões. Eu os reclamo furiosamente, na tentativa mais cristalina do pensamento e no furor mais angustiante do estômago. Eu destrono-Me em suas veias, em sua lava, em sua lama. Aprendo a ver no chão os diamantes, de rastejante que sou, e soerguer-me outra vez, num pêndulo jamais sossegado entre o réptil e o apolíneo. Entre estes dois Infernos, há um Céu em que se decide, por indizível fatalidade, que se quer viver, dispondo-se, firme mas cegamente, a secretar Luz no seio das Trevas, a enuviar-se de limpidez sob as cortinas da gravidade. Disso, porém, não enganar-se é o selo de um dificuldade tenaz, negar-se vítima da intimidade, do sentimento, da espontaneidade simplória, da glória mais do que enxuta de viver apenas de si. Deste tríptico descomunal nada me pertence, sou impróprio e impuro,  seus signos me são alheios, seus desígnios eu ignoro, e todos se manifestam, porque são mais espíritos que matéria, na moedura daquilo que de meu ser poderia chamar-se meu ventre. Ali estes monstros decidem gestar suas crias, indiferentes ao meu alheamento, mas convictos de minha aceitação. Jamais os negaria, de mim mesmo faria um abjurado em nome deles, antes eu pudesse saber onde eu me separo e os deixo. São meus unicamente quando minhas são as suas partes mais estranhas, quanto mais próximo é o vão que nos aproxima, quanto mais sei dizer daquilo que obstinadamente eles se calam. E se aos mais novos minha voz soa envelhecida, estas musas que me apaixonam tem um nome para isso, elas precisam inflar como balões incandescentes e expirar um pó luminoso que atravessa os tempos para se dizer que um ser assim é Anacrônico. Tolhido pelo Tempo, pelo Feminino e pelo Demônio, fazer-se em tempo geológico o pólen mais frágil para a mais breve das flores. Não estou preso no fascínio da tempestade e o do terremoto, fenômenos superficiais e passageiros são eles, no entanto, mensageiros. Em seus encalços trazem algo de perfeição, como o primeiro raio de luz rasgando o crepúsculo negro do temporal e os heróis de concreto que sobrevivem porque apesar de estátuas têm a virtude de se moverem enquanto a Terra, nada menos que ela, tenta derrubá-los. São rascunhos, mas são eternos!  Estrangeiros à normalidade das mudanças, ou muito velozes ou demasiado lentos, ao mesmo tempo, paradoxos, de qualquer forma, jamais exilados. Um ser assim se completa, isto os diferencia, no exímio percurso de vir à tona, provando um gosto único em devolver-se ao mundo como um lince embriagado. Não podem desligar os olhos do coração, sabem de cor a lucidez.  Entregam-se, perdulários, ao sacrifício; recusam-se, gananciosos, à Morte. Suportam de má vontade o abstrato, por mais belos que sejam seus artifícios, e de incríveis que tecem suas ironias, são feitos de muitas almas, tantos são os meios de chegar ao mais difícil, um Indivíduo, ou seja, um Mundo diverso que crucifica com a estaca da Liberdade o que une o limite ao universo, o animal ao gênio, o monstro ao  belo, o que cultua o necessário e o mistério e o chama verdade, ou tragédia. Estes seres são ensaios intermináveis do que é impossível pronunciar:





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Um comentário:

Unknown disse...

sofrer das mesmas fórmulas e verter diferentes, eu tenho procurado uma legião dentro de mim e nunca um mesmo indivíduo, este teu texto é pra ler e se reler e reler e se ler... por tempo indefinido.
um forte abraço!