segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Angst, kampf, luft. Angst, kampf, luft. Luft, luft, luft.

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Quando as razões são maiores que você. Quando elas não são?
Quando nós tentamos dar nós nas cordas do tempo. 
Como se pudessem abreviar.
Quando o silêncio agora é já a ausência depois.


Assim comprimido, quanto que é possível? Nenhum ligeiro conforto. Não sei qual carinho me faz. Quando é amanhecer: os bêbados caíram e o débeis ainda dormem. Talvez o calor da louça. Já o álcool me sofre. Nenhuma alusão a mim. Não vai se encontrar, não adianta. As somas das desimportâncias, o terror dessa conta, elas terminam na importância que fazem. Agora que já não dá para esquecer, para saber. Quando se perde dá para se achar: não sair do lugar, para sempre. Nem sempre dá. Quando estamos juntos? Quando separados? Com qual fidelidade eu alicio a violência? Não vou lembrar dos olhos, nem das mãos, eles estão cobertos de sentimento. Eu estou farto: eles mentem. Eu sou uma sobra: o balcão, as mesas vazias, a camisa impregnada de fumaça, um som, uma solidão. Quando está confuso, quando os números se tornam máquinas idiotas, quando eu estendo os braços observando as veias do tédio, quando eu furo a realidade, o que me salva, o que me liberta é a porta da frente, deixando atrás apenas um nome, um vulto, uma página em branco e surrada. Sabe ouvir uma coisa? Eu não sou feliz sem ti. O tempo vai entulhando tempo sobre nós. Uma coleção esquecida de vezes e mais vezes.... Tem sol do lado de fora, onde tudo é normal.... Esses quatro pontos eu aprendi com Whitman, não são reticentes, são mais justos com os lapsos que cortam as falhas que cabem.... Outro dia eu tinha onze anos. Quando que... Me bateram pela primeira vez. De raiva que apoiada na força não doeria tanto se não fosse com o próprio coração dele. Logo meu pai entrou no quarto chorando, pedindo desculpas, como se aqueles tapas tivessem sido piores que a raiva com que erguia as mãos. Isso sempre doeu muito mais: a mão hasteada que não descia de tão covarde. Essa surra é que me chorava. Ele não podia bater, então esmurrava a si mesmo com as luvas de uma culpa inútil. Com tanta força, tanta força, que parecíamos de gesso enquanto o branco de nossa estátua vertia um negro encharcado de mágoa. Eu não saberia bater nele, chutar uma vida que ainda valia a pena, de algum jeito, porque somos acolchoados de um tecido vivo. Então eu batia em mim. E deixando de bater no que feria aprendi que apanhei o dobro das vezes. O meu quarto restava um claustro, a coleção colorida de histórias infantis se tornava o espelho de quem se derrotava com as mãos pequenas que não podiam segurar o pesar descabido que caia do rosto. Até que eu pude matá-lo. Quando ele morreu pra mim. Quando a correria da casa e as alegrias do quintal, quando algumas vezes eu fui preferido e ele meu único herói, todo esse tempo caiu ajoelhado sobre um corredor vazio, frio, morto também. O que me custou os sonhos, porque o descanso da vigília era só o abrir das cancelas para um rodeio dos pesadelos. Quando dia, provar ao resto do mundo que eu não estava doente, e à noite ser costurado vivo por cada minuto de horror, com as linhas de quem ensinando apenas a dor deixou um rastro de uma maldita presença cuja falta era mais doída ainda. Não lembro da última vez que nos olhamos nos olhos, deve ter sido o instante da última cor nos olhos dele, antes de tê-la recortado e tingido os meus. Hoje tenho uma cor viva no centro de onde saem afluentes vermelhos até as bordas.... 
Hoje as noites ainda são farpantes; também sofro de encanto com vezes do dia; e rimo o desatino das coisas com algum qualquer de alívio.... Aqui o chão é cimentado e nulo, as janelas estão quebradas e eu perco a minha migalha sóbria na palidez esquecida das paredes. Nada me falta. Eu abri a porta da frente mais um vez. Eu conheci uma menina. Ela fugiu, correu até sumir. Nunca deixei-me fazer o mesmo, eu aprendi a matar! Hoje as noites ainda são calmantes. Ainda é de aprender: a ficar, a viver.


2 comentários:

Gisele Secco disse...

Como pode virar bonito assim (se for dor) isso?

Só sei que pingou um pouco em mim.

Obrigada, de novo.

Guilherme Franco disse...

Vai assim
Que um dia tu chegas a ser verdadeiro...