quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

As relvas profundas

.
.
Luz amarela; auréola sedutora; espelho solitário.
Luz de Pessoa; arco pranteante; comédia opúscula.
Das horas que passei em branco, mármore robusto
Te aprendi de perto, Luz noturna, Te saudei amante

Um átrio pálido de luxo e resquício, onde sobrei
Ignorante, Crédulo, Querente. Uma mesa de rascunhos
E as linhas absortas na indecifrável tarefa de si
O cálcio de uma arquitetura destruída, o corpo de um faminto

Peito: Esta cratera que acoa e se eclipsa,
Generosa fenda onde as gueixas dormem. Onde é luto
Ali onde me ponho fora, Ali onde arrebento
E tantas, tantas, Tantas vezes me recuso

A recusar também a Negação. Um sobressalto de Sáude.
Quando meu leito é todas as coisas. Quando expulso a ladainha.
Quando despacho quaisquer dos troféus. Quando trafego
Toda a estrada, refaço todo o caminho, Esquecendo!
Entre a lagarta e o voo brincando com a vida inteira.

Quantas noites na mais clara e sufocante das escuridões
Quantas vezes Eu, Eu outraz vez, novamente Eu, o pequeno
Ser repugnante. O ouro falso do lodo. O fastio pegajoso das formas.
Vergar a memória, a torpe imaginação, vergar a posse e o desdém...

Ver o mais alto, o pior, o jogo das navalhas e das flores:
Te amar. E amar aquele que tu amas. Amar a minha ausência.
E as mãos que te pegam. E a saliva que te gasta. E o espasmo que te goza.
Entre os dois, na matéria escaldante, estarei lá. E depois, nas sobras, também.

Eu sei, porque já estive lá. Eu sei, porque experimentei. Eu sei, porque sofri.
Infelizmente. Para o coração, metáfora puída. Para os dias calmos.
Para o casamento e o prazer dos domingos. Para a paz dos abraços.
Para tudo o que sente pela metade: Eu amo ser deixado. E todas as coisas.
Eu amo ser escravo. E todas as coisas. Eu amo ser todas as coisas.

Já com os tendões rasgados, com os braços pesados e o olhos náufragos,
Já sabido, desmentido, pisado. Eu posso dizer essa coisa, eu posso cantá-la.
Eu estive e estarei lá. Eu a conquistei e haverá de deixar-me eternamente.
Porque os cantos escuros da sala, porque as calçadas, porque os porres me têm.
Eu posso dizê-la, eu posso cantá-la e desfalecer no rosto dos esquecidos:
Eu fui o mais fraco, não me tornei mais forte, Mas estive vida, fogo e vida, meus filhos
.
.

Nenhum comentário: