terça-feira, 2 de outubro de 2012

Bem distantes




É só um bloco uniforme no céu,
é só uma forma geométrica comum.
É só um círculo, da cor sem cor trivial.
Qual a tua dignidade, então?
Não tens vida, não tens luz,
satélite à mercê, falta-te mesmo gravidade.

Por que és a canção mais bonita dos noturnos?
Pletora de apócrifos, assim é que meu coração
gostaria de ofender-te.
Falsa rodela de emoções.
Mas tua mentira, teu contorno, teu véu...
Maldito júbilo que pariste nos amantes.

Os galhos esguios te apontam,
parecem chamar-te, úmidos.
As gotas do orvalho despencam das calhas
como se os telhados chorassem secretamente.
Que meus olhos nunca tivessem visto
este desespero dos zincos.

Nem sentido há em tua imagem,
gigante tambor de solidão.
Vês, contradigo-me, é o mal de tua nudez,
o mal de teu vórtice feminino, o mal de tuas
ordens sobre a desordem dos canalhas.
Devolve em teu reflexo a pobreza de minhas marés.
Vês que entrego-me ao teu mal.

Cortaste a cúpula escura calmamente,
enquanto o tempo agonizava aqui embaixo.
Lânguida noite, lânguido horizonte.
Como chegaria o sono, se teus módulos
impelem meus nervos a uma gentileza sem fim.

Os galhos esguios dos meus braços que te chamam,
as gotas do meu orvalho que calham
agora sobre ti. Acho que neste falso momento para mim,
e eterno para ti,
colidimos nosso longínquo passado, 
nossas rochas liquefeitas deram-se as mãos.

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