domingo, 21 de abril de 2013

1993



Não verti em poemas senão as mágoas
Nem soube aparar as pontas desse destino
Deram-me um tiro na têmpora quando menino
E daquela água turva, crivando meus olhos pequenos,
                                                           [não me safei

Ainda percorro uma casa assustada e vazia.
E do pátio vem apenas uma saudade que
                       [funde um areal sangrento
Não há nuvem que condense a morte de alguém
Não há despejo dos olhos que termine

O carvão da vida vem e risca-te
uma parábola homogênea e putrefaciente:
 - daqui pra frente vais morrer nos instantes.
Não tens por que doer por tanto, tanto
que não há razões, nem matéria, nem vocábulo
                                           [de cura e perdão

Trago a ferida aberta do ser-humano - nem todo
Apalpo suas bordas e entoo o cântico,
rabisco o pérfido fantasma e o recorto em pranto

Ao final, vacilo em doçuras
eu lembro do que é mais perfeito nos homens
Eu toco as cordas de meu animal mais bonito.



2 comentários:

Guilherme Franco disse...

Paixão, memória... o túnel do tempo que retorna sempre aos mesmos momentos, aos mesmos eventos, que nos constróem e reconstróem a cada instante que deles nos lembramos e os refazemos, com novos significados e novos sentidos...

Concordo contigo e penso isso, o mais importante que a eterna busca do novo e do atrativo é o voltar para fazer o antigo e relevante mais bonito, mais puro, melhor

A poesia talvez seja isso

Rafael F. disse...

Quisera poder compartilhar aqui um imenso silêncio -
puro, quieto, limpo, vazio -
um fim e um começo, conforme à vontade de quem silencia,
uma espécie de paz,
aquela parada em que o viajante fica, se quiser,
ou vai adiante,
porque tudo pode.