quinta-feira, 26 de junho de 2014

Tétano



Abriu-se a pedra outra vez
De tempos em tempos o coração racha
Vê-se o opaco nos olhos
e a carcaça dos corpos
Sente-se a secura dos lábios

O íngrime laboratório da vida fibrila!

Em cada espantalho dói um sentimento trincado
Parecem negar terem visto o túnel faminto
Ninguém sabe quando a morte começa
Desconverso:

Agora me vem aquele lençol de estrelas
Quem dera ser tão só a empilhadeira dos teus olhares
Dar um nó nos trilhos que te afastam,
Escangalhar as linhas até reconvertê-las a um único traço

Mas o que digo assim vacilando os poros?
- Deixei para trás as mulas sem cabeça
- Mergulhei de vez na matéria bruta
- Declinei, incendiado, de ressuscitar-vos!,
jogando qual macacos as partes mortas
do meu coração nas vossas caras

Em cada hedonismo um cadafalso
Em cada seio e em cada pau e em cada bar
e em cada boca uma grande e gulosa e fastigiosa mentira!
Todo gozo um infinito pleonasmo
Mas em cada fresta do mundo tem um ser-humano frio e encolhido
Em cada gargalhada milhares de casas de papelão

Mas o que faço ainda rodopiando os mesmo símbolos?
Como revirar o lixo para matar a fome
Ou dançar descalço para provar sutileza
Ou vestir ideologias para sentir-se útil

Fodam-me aqueles que veem lirismo no mais profundo oco!
Peguem suas bandeiras, deem tiros para o alto
Sintam o cheiro de cominho e mel no mar da Turquia,
revirem seus estômagos e durmam em paz!






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