terça-feira, 11 de março de 2014

Deserdado, ou quem sabe?



Tenho as mesmas chances de

Uma barata. É o que me dá nas vetustas telhas,

as cascas já tanto grossas e as velocidades

cada vez mais lentas



E ainda tenho que limpar o vosso mijo de sábado,

Aquele pelo qual pago de verdade.

Também devo juntar os cacos da vossa gargalhada.

Como doem os cacos da vossa gargalhada!

Obturar o mal-humor, as horas e mais horas

E mais horas



Vem-me a lembrança de um fogão à lenha

Na casa de minha avó materna.

Eu fazia de sua alça o guidão de minha locomotiva

Como meus olhos não turvariam agora

Se vida corria tão grata, se havia o cheiro de doce de

Abóbora; se meus trilhos tinham toda a graça e

E nos meus dias eram os sonhos que deixavam rastros?



Hoje me escondo debaixo desse tanque de guerra,

Seiscentas Kiev me rasgam. Por dentro me correm

Areias, é o movimento que me ignora.

Tornei-me uma daquelas serpentes no deserto,

Engatilhadas por debaixo da derme.



Um comentário:

Guilherme Franco disse...

Nada mudou, meu amigo, a não ser aquilo que quiseste ou que julgaste por necessário mudar... Quanto ao mais, tuas chances podem mesmo ser iguais às de outro ser (mas chances de quê?), por outro lado, teus afetos, nunca...