quinta-feira, 4 de março de 2010

Liquidificador

É estranho pensar... Mas pensemos na dor, uma dor na alma, quando nos rouba os sentidos, quando nos furta as horas e o mar de lama ao nosso redor parece não deixar sobreviventes, onde dói essa dor? Pareceria diferente se trocássemos a alma pela matéria, mas pensemos bem, ou seja, com o próprio corpo da experiência, não há lugar para a dor rainha. De uma alfinetada até sabemos o seu lugar, de um choque reconhecemos a fonte, de um incômodo interno suspeitamos o berço, mas se rasgam nosso intestino com uma faca mal afiada, vejam, o lugar está ali, nosso intestino, mas não é ali que dói!, não está no espaço a dor, é o passado e o futuro suprimidos do tempo que urram no presente, somos extintos como partes e somemte nos é deixado o tempo absoluto da dor! Pois, então, aí está: a dor é ser absoluto, é sair da mudança, é quedar-se engessado, expulso da fruição do tempo... Estar barrado da reinvenção do tempo é doer intransitivamente: a dor não passa, isto é a ilusão, nós é que somos passageiros, passagem, tempo ou... doentes!

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