terça-feira, 18 de maio de 2010

dois e dois são três

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as coisas em mim, na sua maioria são graves
têm gravidade, são sérias e pesadas
do gênero trágico
muitas vezes épico, heróico
não é nenhuma glória, a bem pensar
ter a textura, o sentido de uma odisséia

você, de outro lado, é um beija-flor, ou borboleta
com certeza, teu nome é haicai da leveza
eu: um caracol

trago o passado inteiro comigo,
sempre presente, tudo ressentido em mil voltas que me pertencem
como a minha própria morada


você gosta dos gostos cítricos, do laranja e do amarelo
minha cor é verde, sou úmido, sombrio, amazônico
você gosta de klee, da limpeza em cores sólidas
eu sou caravaggio, goya
luz tecendo escuridão, negro

dois quaisquer
mas eu prefiro você
truffaut, godot, voz e violão,
rayuela e livro sobre nada
prefiro seu jogo da amarelinha

2 comentários:

Talita disse...

uma chapeuzinho amarelo
que morre de medo
e finge que não
prefere comer o "bolo de lobo fofo"
e beber a água do "lago
onde o tédio toca a luz".
já que não sei ser triste, engulo as lágrimas,
sinto o gosto do sal...
um pouco do teu peso há de fazer corpo em mim,
nas voltas que em mim existem, mas esqueço.
talvez uma outra forma de estar perto da vida:
presença alheia?
amarelinha ou amarelada
falsamente não amedrontada
vive no amarelo que contorna a sombra do quadro de caravaggio
a sombra daquele que diz preferir outro jogo.
mas no fundo ele sabe, que a sombra dele - a sombra do velho úmido verde e profundo - nasce da luz.

Anônimo disse...

linda demais!!!!
certa vez, num tempo lá atrás,longe,longe... élvio escreveu "escafandro" e até hoje me vejo/sinto enclausurado ali naquela armadura marinha...; hoje lendo dois e dois são três tive a mesma sensação. É porque sou verde (ardósia) tbem!!!