quarta-feira, 28 de julho de 2010

mijei por sobre os mortos

mijei por sobre os mortos - um sorriso úrico
debaixo do último cimo, por cima do enésimo gole
como a cola d'água de uma chafariz assassino
fui sumindo como o balé da fumaça
na fornalha espelho dos dias adiantes, restantes, rastejantes

meu périplo é das tripas arrastadas no chão, cascavelhices
morredouro nos tecidos de sol dobrados em gavetas negras,
um soro vertigem de caminhar a nado num lago tóxico

o próximo navio é minha figueira plena pátria serrada aos prantos,
naufragada ao solo ignoto das origens, das imagens primeiras,
ao início matriz do poema... vacilo -
redemoinho púrpuro, ralo dos delírios

a mesma solidez dos garfos que seguram meus passos
a fim de a faca torneada com horas a fio degradar
a tenra carne de meu cérebro tremeluzido de animais
as feras telúricas que empossam o músculo trágico da vida

descalço segue o rodo da tristeza, da resina, da tortura
travando a ambiciosa rendição nas ervas daninhas
das minhas calçadas, no revés do meu garimpo silêncio
no distrair ruminante das saídas que inventei no corpo tangente de meus círculos
moro nas rotações de um sistema lunar, onde a luz cintila num sal metal noturno
a vida úmida trepa em hastes de abandono, todos os signos são agudos
tesouro, louco, vértice - do íngrime ao surto, do infesto ao ouro
do protesto ao sexo, do rumor ao grito, do primor ao precipício

o bruto amálgama de vozes faz ruir o rosto pálido
do teto estrondo dos ratos que sela a separação do céu,
então sou barco dos gritos de ancestrais d'outro universo,
a lança cometa dos sonhos abertos em painéis de revolução...
meu giro, meu bote, meu leite materno revida a ninharia do credo
não morro, não durmo, não páro... óleo na máquina dos vivos -

a lápide coração dos infelizes tem a pele fria,
mas a língua dos cães é um inferno matilha... e tenho as raízes bêbadas desse calor canino

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