quinta-feira, 15 de julho de 2010

o amargo castanho-escuro dos teus pêlos

é dor que faz aos olhos
a fria península que nos separa -

como tardes que precipitam...
os dedos pequenos do orvalho
e o tombo congelado das noites

como a louça esparramada de raiva,
a porta entreaberta de adeus,
o ranço das vestes manchadas
do ocre dos teus segredos,
eu me abandono inteira...

jamais poderia amar-te:
se desvendasse a calma dos teus golpes
a tempo de não sobrevir os carinhos
se não fosse minha tolice miúda
de gozar ao revés das foices com as quais me maltratas
se não fosse meu coração desnudo - 
que a vida fizera ferrugem -
untado, assim, tão perfeitamente
com teu óleo barato de amores

se fácil fosse a fuga...
dos cegos arrepios,
dos teus olhos rasos,
e dos teus abraços
que tão torpemente me amarram
ao lodo cediço das tuas delícias

se a coragem me é estranha,
a covardia é de ti bem sabida,
pois não sei da valentia
que é limpar a sujeira tua
nas lágrimas minhas, arrependidas 

as lágrimas...
estas que não me tornam pedra -
meus tropeços e máculas -
sinas que insinuam flores
a vã promessa... de esquecer teu cheiro

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