domingo, 7 de novembro de 2010

O dia em que me apaixonei.

Saí de casa pra ir na feira comprar o salame e a cerveja do meu Lizarrazu. Não, não é meu cachorro, é meu marido. Marido marido! não é, mas a gente se ajuntou faz tempo. Quando digo o nome dele as pessoas pensam que é macumba. Eu digo não é não,  tem até um jogador francês com esse nome. É chique, ora. A Cirlene, minha vizinha, dá risada. Essa é descontraída, peida até estendendo roupa. Passei por ela no caminho da feira. Não tinha salame, quer dizer, tinha, mas 'tava mole, eu gosto quando é do duro. Mas a cervejinha eu trouxe, e com esse calor, mãezinha, a cerveja é o céu aqui. No caminho de volta dei uma paradinha no salão da Neide pra saber do Rubinho, marido dela. Já depois de velho, arrumou uma caxumba; e não é que a peste recolheu, 'tá com os bagos inchados o pobre. Mas como diz a Neide, não é problema, Rubinho já 'tava aposentado daquela região. Fui-me embora. Quando dobrei a esquina, bem em frente a vendinha do seu Neco, foi aí que aconteceu o acontecido. Não sei o que me deu, só Deus pra saber, mas tive uma tremedura nas pernas e um disparo no peito, me apaixonei por um burro, na hora. Aquilo sim foi macumba. Nem posso explicar uma coisa dessas. Mas o bicho era forte, tinha um cheiro de força, era um perfume fresco de cenoura, me embebedei naquilo. E tinha os olhos caídos, uma beleza abatida, uma meiguice calejada. Não pude evitar, agarrei a cabeça do burrito, passei a mão naquelas orelhas charmosas e dei um beijinho nas fuças dele. Ele respondeu parecendo amolecer as patas...
Viver é isso, logo passa. Olhei pro lado e ninguém tinha visto a loucura. Voltei pro meu Lizarrazu. Abandonei o burro, apaixonada. Acho que foi a burrice mais linda que já fiz.

Um comentário:

Unknown disse...

lindo, é um conto (quase de fadas) :) boa semana