domingo, 10 de fevereiro de 2019

2019/01




Eu morri da primeira vez quando deixei de ser poeta
Não valia a pena, ao derredor muita gente havia partido:
Ver partir é o que mais parte um coração

A festa termina: o primeiro raio de sol aparece
Espuma e langor noturnos despedem-se
Do corpo ainda quente

A viagem de férias termina: ainda tem areia nos sapatos
Alguém cantarolava na cozinha uma poesia de Cummings, 
sem saber que era uma poesia de Cummings; 
cantarolava nalgum lugar alegremente além.
Alguém na varanda contava a história de quando chegaram ali, havia nada, só o chão e o mar;
Alguém no quintal rodopiava de olhos fechados;
Alguém no quarto sabia as notícias de quem ficou na cidade, 
chorava a saudade do ex namorado;
Alguém ali colecionava esses pequenos esplendores.

E assim seguiria até o fim dos términos, quando tudo de vez termina, 
quando se fecham os poros e os olhos.

Quando no mundo não cabe mais o nosso ódio e nem o nosso ócio. 
Quando o escritor de 23 anos já rompeu os tendões do seu tempo. E se joga.

Terminei. Era isto: Estou um pouco velho e cansado demais pra morrer. 
Vou ser poeta. Poeta do fim.

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